Com a COP30 se aproximando, justiça climática ganha protagonismo nas negociações e reforça a urgência de enfrentar a crise climática com foco em desigualdades sociais e territoriais.
A COP30, que acontece de 10 a 21 de novembro de 2025, em Belém (PA), promete consolidar um tema que já vem ganhando espaço nas últimas edições da conferência do clima da ONU: a justiça climática. Confira neste artigo o que define o conceito, de que forma ele conecta crise ambiental e desigualdade social e como ajuda a colocar no centro do debate global uma questão essencial: quem mais sofre com as mudanças climáticas não é quem mais contribui para causá-las.
Rumo à COP30: o que é justiça climática?
Trata-se de uma abordagem que reconhece que a crise climática não impacta a todos da mesma forma. As populações mais vulneráveis – comunidades indígenas, povos tradicionais, mulheres, pessoas negras e populações de baixa renda –, enfrentam riscos desproporcionais, mesmo tendo uma pegada de carbono muito menor que a de setores mais ricos da sociedade ou mesmo de países mais desenvolvidos.
Ao falar de justiça climática, falamos também de responsabilidade histórica. Os países do chamado Norte Global – tais como Estados Unidos, França, Reino Unido e Japão, entre outros –, nações que se industrializaram mais cedo e por mais tempo, têm uma dívida ambiental com o Sul Global – formado, por sua vez, por países como Brasil, Nigéria, Colômbia e México, entre outros.
Isso se traduz, por exemplo, na necessidade de transferências financeiras, tecnologias e capacitação para adaptação e mitigação – ações que, até agora, têm avançado lentamente nas negociações climáticas.
Por que a COP30 será um marco?
A escolha da Amazônia como sede da COP30 coloca o Brasil e a região amazônica no centro das negociações globais sobre os aspectos socioambientais da crise climática. Além de ser a chance de também lançar luz sobre desigualdades profundas dentro do próprio território brasileiro. As populações da Amazônia Legal enfrentam eventos extremos, como secas históricas e enchentes fora de época, sem a mesma estrutura de resposta que centros urbanos do Sudeste, por exemplo.
Esse cenário evidencia a chamada desigualdade climática, outro termo-chave para entender o peso da justiça climática no contexto da COP30. As condições de moradia, trabalho, acesso à saúde e infraestrutura determinam como cada grupo será atingido pelas mudanças no clima. Desigualdades essas que são, por sua vez, atravessadas por recortes de raça, gênero e território.
Não à toa, o conceito de interseccionalidade, cunhado pela jurista Kimberlé Crenshaw, vem ganhando relevância nos debates socioambientais. Kimberlé aponta como diferentes formas de opressão, como racismo, sexismo e pobreza, se “combinam”, ampliando a vulnerabilidade de certos grupos diante da crise climática.
Para saber mais: Kimberlé Crenshaw é uma jurista, professora e teórica crítica norte-americana, reconhecida por ter desenvolvido o conceito de interseccionalidade, que analisa como diferentes formas de opressão, como racismo, sexismo e desigualdade de classe, se cruzam e se reforçam. Professora de Direito na Universidade de Columbia e na UCLA, Kimberlé é uma das principais vozes nos estudos sobre justiça social, direitos civis e teoria crítica da raça.
O que esperar dos debates durante a COP30?
O que se espera é que temas como perdas e danos, financiamento climático, direitos humanos e transição energética justa estejam entre os principais pontos da agenda. A sociedade civil, especialmente representantes de populações diretamente afetadas, deve pressionar por decisões que levem em conta não só as metas de carbono, mas os direitos e as condições de vida das pessoas.
Tudo isso coloca a justiça climática não como um “acréscimo” ao debate ambiental, mas, sim, como sua base. A crise climática é também uma crise de direitos civis, e enfrentá-la exige olhar para quem está na linha de frente. Com a COP30 acontecendo na Amazônia, essa perspectiva se torna, ao mesmo tempo, mais urgente e mais visível.
Fontes:
United Nations Framework Convention on Climate Change (UNFCCC)
Relatório “Justiça Climática: uma abordagem interseccional” – Instituto Clima e Sociedade (iCS), 2021
Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) – Sexto Relatório de Avaliação (AR6), 2023
Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (IPAM)
Observatório do Clima
Intergovernmental Panel on Climate Change (IPCC) Glossary