por Aline Schneiders
Quando se trata da agenda ESG o passo a passo para implementação é um caminho nem sempre fácil de encarar os próprios gargalos nos pilares ambiental, social e de governança. Seja lá o tamanho do negócio, começar essa jornada costuma ser uma ‘dor’, como costuma-se dizer nos mundo corporativo. Há alguns meses, durante o Primeiro Fórum de Sustentabilidade realizado pelo SeloXis, na praia do Espelho, em Porto Seguro (BA), a fala de uma empresária do setor de turismo me chamou atenção: “Todos temos algum telhado de vidro”, disse ela. É fato também que muitas organizações usam de estratégias, principalmente greenwashing, para esconder seus telhados de vidro.
É bem possível que a sua empresa tenha telhado de vidro? Sim, é. É possível que você seja o único? Não, não é! É possível que outros já estejam em movimentos mais adiantados para minimizar os impactos negativos? Pode ser que sim, pode ser que não. Mas a pergunta é: até que ponto você está disposto a conhecer seu telhado de vidro e se envolver profundamente nesse movimento ESG? É um despertar…
Por vontade própria ou força do mercado, você escolhe a jornada, podendo ser com menos ou mais pressa. Sim, será preciso tocar em temas sensíveis como, por exemplo, as práticas de governança. Será perguntado a você questões como as seguintes: a empresa torna sua prestação de contas contábeis pública (por exemplo, divulgando-as em seu site), além de convidar as partes interessadas para apresentação e aprovação do documento? A direção da empresa atua diretamente na criação de uma cultura de integridade? A empresa pratica comunicação com responsabilidade e transparência? Identifica os riscos (estratégicos, financeiros, regulatórios, operacionais ou reputacionais) em curto e médio prazo de seu negócio? Como são as práticas da empresa quanto à Diversidade, Equidade, Inclusão e Acessibilidade?
Para esse despertar, a frase ‘feito é melhor que perfeito’ é muito bem aceita. Para dar o primeiro passo nessa direção, é preciso entender e relatar todas ações que já estão em prática, resumidamente o estudo do contexto organizacional. Num segundo momento, será preciso conhecer os stakeholders, as partes interessadas. E, por fim, conhecer os impactos reais e potenciais, que é identificar o que é importante para o negócio, para a comunidade, para clientes e para investidores, tudo por meio de uma ferramenta chamada matriz de materialidade. Nesta fase, outro ponto muito importante para o qual costuma haver muita resistência, é conhecer os chamados riscos ESG.
Feito isso, vamos para a avaliação da significância dos impactos. Partimos então para o planejamento, ou seja, estabelecer um passo a passo de práticas que a empresa consegue implantar. É muito importante não querer abraçar o mundo de uma vez, lembre-se é uma jornada, devagar e sempre. Essa é a vantagem de se anteceder às regulações de mercado. Agora, é a hora de implantar o seu planejamento, medir e monitorar periodicamente: ESG precisa de métrica. Inicialmente podem ser práticas qualitativas, mas com a maturidade os impactos precisam ser medidos para serem validados. Por fim, é só relatar e publicar. Muito importante: tenha uma comunicação ética e responsável.
Eu imagino que só de você ler já deu canseira, mas lembre-se que é uma jornada – e estão previstos alguns telhados de vidro. Seu negócio não é o único. A questão é: o que está sendo feito com essa consciência criada? A ideia é que você consiga com o tempo transformar esse telhado de vidro em um telhado sólido, melhorando a reputação da sua empresa, reduzindo seus custos, gerenciando seus riscos e elevando o impacto positivo do eixo ambiental e social.
Você pode contar com o trabalho de um consultor em estratégia em todas as etapas. Não está e não precisa ficar sozinho. Coragem! Concluo que todos temos telhados de vidro. A boa notícia é que a implementação da agenda ESG pode seguir um passo a passo e todas as etapas citadas nesse artigo estão apoiadas por metodologias disponíveis de forma gratuita na internet.
Aline Schneiders é mestre em administração de empresas pela Unesp e doutoranda em agricultura sustentável pela Unicamp.