A indústria do futebol tem sido alvo de críticas por ignorar uma realidade que, hoje, se impõe a toda atividade econômica não importa o setor: a sustentabilidade. O que nos leva a questionar o quanto essa paixão mundial, como negócio, está preparada (ou disposta) a absorver as regras da agenda ESG
Parte do catálogo da Apple TV, a série documental “Superliga: A guerra pelo futebol” revela os bastidores de uma tentativa fracassada de criar um torneio só com clubes de elite da Europa.
Em quatro episódios, acompanhamos a articulação, a ascensão e a queda da tal Superliga, que seria exclusiva para os gigantes europeus e iria substituir a atual Liga dos Campeões. Por um lado, garantiria muito dinheiro a quem jogasse; por outro, mudaria completamente a noção de competitividade no futebol, por ser uma liga fechada com a participação de 20 clubes, dos quais 12 (os fundadores) não precisariam se classificar nem seriam rebaixados.
Os torcedores protestaram, a Fifa e a Uefa foram contra e a ideia fez água. Mas o que esse projeto de uma liga elitista revela sobre a postura e a ética dos times europeus enquanto empresas que movimentam bilhões? No mínimo, que a ética é um gargalo e que a governança precisa ser revista. Sem contar o descaso com os torcedores e a consequente desidratação que isso provocaria nos times menores.
Assista ao trailer da série “Superliga: A guerra pelo futebol”:
Alguém falou em ESG?
Não. E esse é o problema.
Sigla em inglês para “Environmental, Social and Governance”, ESG é um indicador dos esforços empresariais em valorizar questões ambientais, sociais e de governança corporativa. “É um tipo de estratégia em que o lucro ainda é o objetivo, mas a maneira de consegui-lo passa por caminhos mais amplos”, conforme explica o especialista em gestão de negócios, Hamilton dos Santos, em artigo publicado no site da Aberje – Associação Brasileira de Comunicação Empresarial.
Saiba mais sobre ESG aqui.
Em outras palavras, é uma perspectiva de negócio com maior atenção ao uso de recursos naturais e ao desenvolvimento social. E não: não estamos falando em transformar os times de futebol – pequenos ou gigantes, daqui ou de fora – em organizações filantrópicas. A ideia é que essas empresas apenas não expulsem de campo a ética e responsabilidade social. Afinal, no Brasil, a atividade representa quase 1% do PIB.
O assunto “futebol e ESG” já tem ganhado espaço, ao menos em rodas mais especializadas. A instituição britânica Fair Game – que se define como um “grupo de clubes orientados por valores, apoiados por especialistas de renome mundial e apoiados por políticos” – lançou recentemente a primeira edição do Sustainability Index 2023: Premier League & Championship Analysed (Índice De Sustentabilidade 2023: Premier League & Campeonato Analisados, em tradução livre), no qual avalia 20 clubes ingleses com base em quatro pilares que têm tudo a ver com ESG: liquidez financeira, governança, envolvimento dos fãs e padrões de igualdade.
Saiba mais sobre o índice aqui.
A conclusão do levantamento é um grande cartão amarelo. Enquanto o documento começa afirmando que “o futebol [inglês] está quebrado” e tem colocado em risco “décadas de histórias, tradições e projetos comunitários”, o CEO da Fair Game, Niall Couper, escreve que “precisamos criar uma nova cultura que celebre e premie os clubes bem administrados e que defendam os princípios fundamentais da integridade, comunidade e, claro, sustentabilidade”.
Essa bola ainda vai rolar muito. Estamos acompanhado.